Jorge Lúcio Albino




MEDO

A noite escura
me dá medo,
fico tonto a procurar
meus segredos,
onde estarão?
Faz muito frio, me cubro
então faz calor,
neste abismo, descubro
a razão da dor
ligo o abajur
bolar, onde estão
meus cigarros?
E através da fraca luz
vejo as sombras dos meus braços
projetadas na parede
que sufoco
tenho sede
deito na rede
com o copo na mão
cigarro na outra.
Que saudade do interior,
pelo menos não era sozinho,
embora pequenininho,
não tinha medo não.
Medo de que?
nem eu sei o porquê,
que homem eu sou?
levanto e grito:
- Sai daí
quem pensas que és?
Os pés dormentes de descalços
fazem um passo em falso,
eu estúpido acrobata,
me espalho no chão,
cacos do copo
me ferem a mão
e então...
Não chorei, mas as lágrimas
vertem-se, embora vagarosas.
Me olhando no espelho
algum tempo estou
e lá fora,
já não é noite
sorrio agora
meu medo some
quando rompe
a aurora.

UMA NOITE

Nós dois ali sozinhos
no carpete da sala,
trocando carinhos,
gemidos e sussurros.
Não se entende o que fala.
Sua manha me assanhando,
suas unhas me arranhando,
eu sugando seu corpo de mulher
que sabe o que quer.
De quando em quando
a taça de champanhe molhando
sua boca sensual,
a música, suave cantiga
mudando o cenário para o irreal.
O tempo passando e nós ali,
você recebendo presente
que merece, no corpo
e a mente explodindo no tesão
na nossa paixão.
As taças, os cigarros, as bebidas,
já terminaram o seu papel,
de figurantes ativos,
foram deixados ao leu.
Um beijinho molhado,
os olhos serrados
seus gritinhos de dor
os corpos colados, suados
amor, amor
A vos pastosa, arranhada
O sangue fervendo,
coração disparado
cavalgando, cavalgando
chorando, implorando
o assalto e a posse
de suas entranhas,
rolamos para os lados
assumimos posições estranhas
nos sentimos tão bem...
Ainda trago no ombro
sua marca, seu carinho.
Amanhece nublado
e no fundo da minh’alma
estão os vestígios
de seu jeito de menina manhosa,
de grande competência amorosa.
Nós somos como mar e terra
um no outro se encerra.

MULATA

O seu rosto mulato
me seduz é um fato
que não posso negar,
e esse mágico olhar
eu confesso
me faz extasiar
Ah, Menina
suas manias
são, talvez,
alegrias,
que eu guardo
pra mim
E, também, esses
gestos suaves,
tantas coisas,
enfim,
Ás vezes, me esqueço
do mundo
e rebusco no fundo
do meu ser
e sabe, o que encontro
é somente amor,
para você.

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