Antonio Luiz Machado Eloy

GELIDO PASSATEMPO

Quem mais se compras na melancolia hibernante
que não os gratos telhados no inverno
quando abraçam a pálida cúpula celeste?
Só eles deixam correr em suas veias,
aos ínfimos pingos, o sangue dos ninhos.
Enrubescem-se descontentes em dias cáusticos,
mas surpeendem-se com a tardia redoma cinzenta
e passamos e estuporados sem perceber
passam o tempo...

PROJEÇÕES

As horas são instantes, os segundos... vitais!
Altivo semblante, olhos estáticos, foscos,
Ouvidos atentos às vezes do próprio ego.
Cérebro lógico calcula idéias emergidas
E, aos poucos, a embriaguez lúcida toma-o por todo;
Convulsões interiores trazem aprazível poder – fascinante,
Nada mais que isso nada mais, embora suficiente,
Eleva-o aos “Andes” de toda compreensão.
Pensamentos recases emanam de si
Efeitos, todavia projeções do caráter!

SEM

À meia luz, o tempo me cerra
E esvaira-se o ar-cinza, mórbido, frio.
Arranca-me em poucos, sem viço, as emoções
E vai, e apaga, e esfria,
Reveste com hibernal couraça
E deixa-me sem sentimentos...

ÁRDUOS CAMINHOS

E nesse caminho tão hostil...
peregrinos passam, eternamente passam.
Carregam mercas – quer sanadas, quer recentes –
donde recendem aromas de ardor.
E quando os olhos cefálicos se detêm,
e escutam o seco farfalhar de tombadas folhas,
renascem lembranças, distantes... de outrora
onde se fazia nítida a lepidez alheia de seus agitos
excitados pelos levianos silvos dos ventos.
Eclodem-me perguntas tantas...
juntas a vagas idéias como poeira quente
que voa por onde quer que ordene a brisa.
E as mágoas brotam, atordoam-me
Apoiadas pelo suor que me escorre
e os calos que me deram essa terra tão inóspita.
Entretanto na peleja permaneço,
e ainda que parasse nessa trilha mesma
“acariciar-me-iam” os espinhos no almejado descanso.

MAR DE MIM

Esporadicamente ventos que me açoitam
e me arremessam a algozes penhascos
convertem meus fluidos mais internos
em insolentes espumas sufocantes
sob um ar que ruge, denso e opaco
por expressões ríspidas de nimbos cerrados
que proferem odes veementes e esplendorosos.
Só o tempo repleto de segundos mórbidos
Serenamente faz-me implodir em hálitos de alívio
para então aflorarem de mim
calmarias de reflexão – sóbrias, frias...
Talvez frutos de polinizações melancólicas,
talvez esperamos de súbita lógica, talvez.
Por vezes, ainda assim, vejo-me malogrado
por majestosos vôos de rapina
de lépidos albatrozes procelariforme
que arrebatam a gênese de minhas entranhas.
Entretanto a suave e incessante brisa
faz sanar os mais diversos conflitos
de tão abruptos e sutis ferimentos.

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