Andréa Batista Matta




AMIGO

Sei que apesar de estarmos juntos no dia-a-dia
Não nos conhecemos bem.
Eu sinto e acho que isso não é justo,
pois estamos mentindo um para o outro.

Sei que às vésperas o mundo
não nos aceita como somos,
ele tem padrões
e para sermos pessoas aceitáveis
temos que segui-los.
E então pensamos no que nos impõe
e quase sempre somos tão tolos
e reprimimos pensamentos tão bonitos,
sonhos, dúvidas, e usamos máscaras
para esconder o que somos.

Mas se nos consideramos amigos,
deveremos estar prontos para nos aceitar
como somos, defeitos e qualidades,
e estarmos prontos para ouvir.
Precisamos saber se somos realmente amigos
ou se somos amigos das máscaras que criamos.

Por que continuamos mentindo?
Por que temos medo de desabafar?
E com isso espantar o outro para longe
e ficar sem amigos se revelarmos para eles
o que realmente pensamos?
Temos medo de que nos considerem
bobos, crianças ou até meio loucos.
E então nos recolhermos a um casulo
que vive no lugar da gente.
Será que vale a pena amigos assim?

Se o mundo não é perfeito
por que sentir então seus padrões?
Vamos ser nós mesmos,
pelo menos um pro outro.
Se somos realmente amigos, podemos.
Deixemos cair às máscaras
e não vamos mais sentir,
e veremos que é melhor.
Aí não te chamarei de amigo,
te chamarei de irmão.
E seguiremos juntos em busca
de UM MUNDO NOVO!

GATO BRANCO

Está tudo tão longe...
Tão longe que eu já não sei
Quanto tempo faz.
Queria ser aquele gato branco
Que brinca inocente
Na sombra do muro em ruínas
E o sol me bata
Como o barulho do mar
A marola do ar
Tecendo o azul do céu
Por entre as nuvens.

Mas eu ando
por entre corredores escuros
Com milhões de portas
Trancadas,
Por onde passa o vento gelado
Das noites de tempestade,
Mas o sol me bate
E eu só, tão somente,
Queria
Ser aquele gato branco
Que se deita na solidão da relva
E busca a solidão
Da tarde vazia
E rola de preguiça,
A preguiça que tenho
De caminhar pro futuro
De atropelar o tempo.

Então eu vou na correnteza
No turbilhão das ondas,
Me movo com a maré,
Me arrasto pelos dias
E me deixo cair nos campos
Assim como o gato branco
Que brinca ao sol da tarde,
Aquele sol que já não arde,
Não queima.

Aquele gato não salta,
Não corre em cima do muro
Mas enfrenta o escuro
Com garras
Unhas
E dentes...

Ah! Eu só queria ser
Aquele gato branco
que à noite
Se faz
Negro.

MEU PÁSSARO, MENINO

Um pássaro em minhas mãos
É apenas um pássaro preso
Mas se ele voa
Ele é a face da liberdade.

Menino, tira teus olhos do chão
E voa com ele, menino,
Olha que o tempo passa
E a vida é pouca.
Solta essa coisa louca
Que é o tempo de sonhar.

Mas sonha de olhos abertos
que é pra não tropeçar,
Solta ele no céu
Que é pra vida continuar
E o sonho não acabar.

Voa
Telhados, campinas
Ondas, mares
Esquinas
Que é pra vida continuar
Que é pro mundo não parar.

Voa
Nuvens, caminhos
Rios, riachos
Sem fim,
Mas não se esqueça de mim
Quando o vento
Te levar.

Solta o pássaro, menino,
Mas prende meu coração
Em tuas mãos de menino
Que é pra não soltar
Nunca mais...

SEGREDO

É impossível evitar
o inevitável,
Impedir,
Segurar o que já não tem jeito,
Pois se já se pode crer
No incrível,
As coisas impossíveis
Podem agora acontecer.

Existem várias formas
De se realizar um sonho;
A verdade agora sobe aos olhos,
Já não está presa no coração
E não tem tamanho,
Pois o implícito
Agora é explicito,
Como se mostrasse
O centro do mundo.

Não existe sonho
Sem realidade,
E essa realidade
Não pode ser sem sonho.
Dormimos todos
E acordamos da real ilusão;
Tudo pode não ter sentido,
Mas o mundo é assim mesmo.
Estamos à frente de um novo século,
Na porta de mais uma vida.
Seguimos agora?

Não podemos parar
Nem apagar
O que já está escrito
Em todos nós.

Podemos apenas fechar os olhos
E deixar o berço correr,
E deixar a coisa rolar.
E deixar as águas caírem,
E a verdade sobe aos olhos,
Se você quer esconder,
Cuidado.

Não consigo mais escrever
Pois tudo o que eu quero
Está escrito em mim.

FIM

Todas as pessoas
estão paradas
em fila
umas atrás das outras.
Os mesmos gestos
as mesmas caras
as mesmas roupas
os mesmos sonhos
as mesmas dúvidas
esperando...

Esperando
que seus sonhos
se realizem,
que suas dúvidas
se desmanchem,
que se tornem diferentes.
Elas tentam
elas gritam
elas comem
elas dormem
elas bebem
elas pensam
e às vezes amam
mas todas sentem
a dor...

Às vezes caem
às vezes levantam
e choram
sempre começo
meio
e fim.

E todas esperam
o fim
e todas fogem
do fim
mas sempre terminam
no fim
e determinam
o fim
dos outros...

Não há como voltar
não há como sair;
mesmo que saia
não há como fugir
do fim...

Mas o fim
é apenas o começo
é apenas o início
é apenas a porta
que nunca está fechada
que não se bate
para entrar
que se entra sem pedir
e se esquece quando partir.
Fim.

Um comentário:

Unknown disse...

Andrea, adorei suas poesias, aliás já conhecia seu dom para escrever desde 1987 .. nossa 20 anos .. vamos voltar ao tempo .. um certo edificio no Méier , Rio de Janeiro.. muitas brincadeiras no play, muitas paqueras .. meu aniversario de 15 anos onde vc foi dama .. quanto tempo .. mande noticias ...

Rosangela

rossvicklein@yahoo.com.br